Entrevista para a edição de agosto da Revista Em Cartaz

11/09/2012 13:38

Em agosto de 2012 fui convidado para fazer uma entrevista para a edição de agosto da revista/guia cultural "Em Cartaz" que deixa o pessoal aqui de Sampa inteirado no que acontece pela cidade à respeito de shows, mostras de cinema, teatro etc. O própósito da entrevista era promover a 3° edição da Mostra Espantomania na Biblioteca Temática Viriato Corrêa. O único problema é que somente depois de "soltar o verbo" é que fiquei sabendo que a pauta não ultrapassaria 1000 caracteres então eu resolvi postar a entrevista integral aqui no site para que este material não ficasse perdido. Espero que curtam...

 

1 – Esta já é a terceira edição da Mostra Espantomania. Como e quando surgiu a idéia desta mostra?

R: A Mostra Espantomania existe desde 2010 e teve sua primeira e segunda edição na Casa de Cultura Palhaço Carequinha onde também organizávamos uma sessão de cinema para a comunidade chamada “Quinta do Horror”, pois existe um público muito carente do gênero horror nas periferias. O preconceito contra os filmes de horror ainda é muito grande por parte dos órgãos públicos/culturais aqui na zona periférica e muitos cineclubes e espaços culturais não costumam investir muito no “cinema do medo”. O medo é o sentimento mais antigo e íntimo do Homem. Por causa do medo os homens primitivos passaram a viver em “residências” fechadas e pararam de migrar, formando assim os alicerces da civilização. O mesmo medo também nos ensinou a utilizar o fogo, a criar a roda e a pressentir os perigos que nos rondam. Ele também foi o empurrão principal para grandes mudanças na história da Humanidade; mudanças boas e ruins, mas que deram um novo sentido ao mundo e àqueles que nele habitam.

 

Se utilizando deste propósito que Rosana Raven (uma das fundadoras da mostra e parceira inseparável) e eu resolvemos apresentar o medo como um velho amigo, pois apesar de ser um sentimento extremamente poderoso e temível, o ser humano é atraído por ele em diversos gêneros como esportes, centros recreativos, jogos e afins. Nesta terceira edição do evento vamos continuar com o mesmo propósito das mostras anteriores que é apresentar as faces menos conhecidas dos filmes de horror, ficção científica e fantasia que não foram “agraciadas” com a divulgação da mídia mainstream. São películas alternativas de todas as partes do mundo que contaram com o sangue, suor e lágrimas de seus criadores e que nem por isso devem ser depreciadas. Muito pelo contrário, devem ser tidas como exemplos de criatividade, perseverança e amor a 7° arte.

 

2 – Comparada com as edições anteriores, em que esta terceira edição se diferencia?

R: Sem dúvida alguma é a estrutura do local. Nas edições anteriores tínhamos todo o material necessário para botar a Espantomania pra funcionar, mas o desinteresse do público local era desanimador. Conseguimos bastante apoio de escritores de literatura fantástica para pôr em prática o projeto “Monstros que Salvam” que visava angariar alimentos para casas de repouso e creches locais, mas mesmo com uma estação de trem praticamente ao lado da Casa de Cultura podia-se contar nos dedos quantas pessoas dos bairros vizinhos apareciam nas exibições e boa parte do público que comparecia vinha de outras regiões (zonas leste, oeste, centro etc) e até do interior de São Paulo.

 

Outro ponto fraco do local onde ocorreram as mostras anteriores era a organização de outros eventos que ocorriam no local. Já tivemos o prazer de ter uma Mostra Competitiva “invadida” por crianças de uma formatura e ter ensaios de fanfarra e violeiros na porta da sala de exibição, heheheheheheh. Agora que conseguimos um espaço na Biblioteca Temática Viriato Corrêa as coisas prometem serem mais fáceis de lidar porque o espaço já é bem conhecido pelos entusiastas do gênero além de comportar outros festivais como o Cinefantasy, por exemplo.

 

3 – Como foi feita a seleção dos filmes que integram a mostra?

R: Primeiro escolhemos os títulos que utilizam o tema da mostra. Depois selecionamos os trabalhos com melhor desenvoltura no roteiro, fotografia, direção etc. Sempre utilizamos um consenso técnico entre a equipe que participa da seleção dos filmes, mas também optamos bastante pela originalidade e bom humor dos trabalhos inscritos.

 

4- Muitos dos longas-metragens presentes na programação podem entrar tranquilamente na categoria dos “filmes B”. Como você avalia esse gênero de filmes? E qual é o seu ponto de vista à respeito dessas produções no Brasil?

R: Para responder esta pergunta vou parafrasear Bruce Campbell, um dos meus ídolos dos filmes de horror (o Ash de “Uma Noite Alucinante”, 1981) que disse o seguinte: "Por um longo tempo eu ficava constrangido ao dizer que eu era um ator de filmes B, mas agora eu sei o que Hollywood quis dizer. Eu descobri que o B queria dizer 'Better' (tradução: melhor)."

 

Assim como o grande Ash eu também acredito que os filmes B estão longe de serem taxados de filmes ruins. O termo “filme B” veio originalmente de filmes de Hollywood destinados a serem a "outra metade" de uma sessão dupla, que geralmente apresentava dois filmes do mesmo gênero (faroeste, gângsteres ou horror) e simbolizam, a meu ver, toda a essência das produções underground. PRC, Consolidated, Ajax, Mascot, Puritan, Monogram eram estúdios referidos como pertencentes ao Cinturão de Pobreza (Poverty Row), termo usado para designar coletivamente as companhias localizadas numa região de Hollywood chamada Gower Street, que produziam filmes com orçamentos extremamente reduzidos. Apesar do nome, as produções do Poverty Row eram muito bem aproveitadas financeiramente e criaram um público bastante fiel. Seus filmes primavam pelo entretenimento e não pela técnica e é isso que se deve ter em conta ao assistir/produzir um filme.

 

Aqui no Brasil a coisa não é diferente. Com a exceção de grandes clássicos como “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (de José Mojica Marins, 1963) e “As Sete Vampiras” (de Ivan Cardoso, 1986) que se tornaram filmes de culto, o cinema de horror nacional sempre ficou escondido entre os cineclubes e a Boca do Lixo. Recentemente uma nova geração de diretores, produtores e atores vêm surgindo e dando “sangue novo” ao gênero horror, com produções bastante competentes e de uma originalidade ímpar, mas o Brasil ainda precisa aprender a gostar do cinema de horror tupiniquim da mesma forma que gosta dos filmes norte-americanos.

 

5 – Quais títulos você indicaria ao espectador que não conhece a Mostra Espantomania?

R: Bom... esta é uma pergunta difícil já que todos são fantásticos por suas diferenças, mas eu tenho que tirar o chapéu para a produção nacional “A Noite do Chupacabras”, de Rodrigo Aragão que fechará a mostra deste ano. Sobre as outras exibições eu vou deixar o público na expectativa pra não estragar a festa.

 

6 – Qual é a programação para a abertura da mostra?

R: Para a abertura da mostra teremos uma breve conversa com o público e a exibição do trailer do longa-metragem de Renato Siqueira “O Diário de um Exorcista”. Logo na seqüência apresentaremos dois pilotos de web séries nacionais: “O Demônio Não Sabe Brincar” (Dir: Mabel Lopes, 2011) e “3%” (Dir: Daina Giannecchini, Dani Libardi e Jotagá Crema, 2011) e um episódio-piloto da websérie espanhola “Amazing Mask” (30 min”, Dir: Dani Moreno, 2011).

 

LINKS:

https://mostra-espantomania-sp.webnode.com/

https://ravens-house-br.webnode.com.br/

https://mostra-espantomania.webnode.com.br/monstros-que-salvam/

 

Espero ter servido bem ao propósito da revista e muito obrigado pelo espaço concedido.

Ivandro GodoY - Agosto de 2012

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